Artigo escrito por: Vítor Mota
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Tudo muda incoerentemente. No mundo BANI actual, um cenário de fragilidade, ansiedade, não linearidade e incompreensibilidade; onde a complexidade é imposta pela quantidade, divergência e velocidade da informação recebida, a necessidade de inovação é a única constante.
Para navegar com sucesso neste ambiente, é importante compreender as conexões entre os nossos processos mentais, que fomentam ideias e impulsionam o desenvolvimento intelectual e humano ao nível pessoal e profissional.
Todas e cada uma das componentes - curiosidade, conhecimento, pensamento crítico e criatividade - muito estudadas individualmente, ganham relevo na sua interdependência, ao abordarmos a ideia de Inovação e produção Criativa. Cada um destes elementos possui força própria que impulsiona os restantes e juntos compõem um ciclo dinâmico, em que cada etapa alimenta e é alimentada pelas demais.
Tudo começa com a curiosidade. Aquela inquietação natural que desperta questões e a vontade de explorar o desconhecido.
A curiosidade é o motor da aprendizagem significativa, porque impulsiona a busca por respostas, desencadeia emoções e motiva a descoberta de novos caminhos e processos.
Pessoas curiosas não se contentam com o superficial, desejam saber o quê e o porquê, o como e o que está para lá disso. É a partir desse impulso, mais ou menos natural, que se inicia o desenvolvimento do conhecimento.
Movida pela curiosidade, a mente busca conhecimento, incessantemente.
O conhecimento não é apenas o acúmulo organizado de informações, conceitos, teorias e experiências. Ele desenvolve-se à medida que argumentamos, validamos e confrontamos ideias, testamos hipóteses e refutamos perspectivas; assim, construímos as certezas possíveis, condicionadas pelo contexto e dentro dos limites das circunstâncias em que se inserem.
O conhecimento é a base sobre a qual se constrói a compreensão do mundo, das relações interpessoais às económicas ou políticas, das interacções da física e do mundo em que vivemos; sobre o qual se fundamenta toda a capacidade de agir com discernimento. Acumular informações não é suficiente, é determinante saber interpretar, seleccionar, integrar ou excluir e aplicar o que se aprende.
O pensamento crítico funciona como o grande refinador do conhecimento.
É por meio dele que se questionam fontes, avaliam-se argumentos, desmontam-se refutações, alinham-se raciocínios, comprovam-se teorias, evitam-se conclusões precipitadas e reconhecem-se os próprios limites de compreensão.
O pensamento crítico convida-nos a olhar além das aparências e do fugaz, leva-nos a considerar múltiplas perspectivas e a fundamentar as ideias com lógica e clareza. Ele é o elo que transforma o saber cognitivo em sabedoria prática e que prepara o terreno para a acção criativa.
Com base no conhecimento, previamente, estruturado e analisado criticamente, surge a geração de ideias novas, fruto de insights inesperados, conexões surpreendentes e soluções originais; é a criatividade em acção.
Não é mero devaneio ou improviso; emerge da combinação e recombinação de elementos já conhecidos, vistos sob novas perspectivas, alinhados em novas direcções. É um momento de expansão de sentidos, de liberdade intelectual e de aplicação da imaginação.
No entanto, nem tudo o que é criado é, necessariamente, útil, exequível ou viável, motivo pelo qual o ciclo criativo não termina apenas com a geração de ideias.
Após a explosão criativa e a euforia emocional, é necessário retornar ao pensamento crítico e avaliar o que foi criado.
Todas as ideias, apesar de inovadoras, precisam ser analisadas, prototipadas, testadas, validadas e adaptadas ou descartadas.
Este retorno ao pensamento crítico garante que a criatividade não se transforme em ilusão ou desperdício de energia, mas se materialize em acções relevantes, sustentáveis e responsáveis, que transformam ideias em inovação real.
Como um músculo que se vai exercitando, a partir de cada acto criativo, surgem novas perguntas, novas dúvidas, novas respostas e novas possibilidades.
A curiosidade é reactivada, num nível cada vez mais sofisticado, induzida pelos processos anteriores e nutrida das experiências passadas. O ciclo recomeça, em espiral ascendente, conduzindo a um aguçar do raciocínio, sucessivamente mais ágil e promovendo o aprimoramento contínuo da dedução e da acção.
Resumindo, num mundo saturado de dados, onde a informação poucas vezes equivale a conhecimento, o verdadeiro valor está em saber formular perguntas, compreender, julgar e criar; sem jamais esquecer de reiniciar o ciclo.
Este ciclo de curiosidade, conhecimento, pensamento crítico e criatividade não é linear, não é rígido, nem sempre nos parece sequencial. Pode começar em qualquer ponto ou lugar; as etapas sobrepõem-se e sustentam-se, mutuamente.
Compreender e cultivar esta consciência é fundamental para formar indivíduos mais observadores, reflexivos, interrogadores, activos e inovadores; preparados para enfrentar os desafios do presente para o futuro.
“Critical thinking and curiosity are the key to creativity.”
- Amala Akkineni